Jesus era um homem de oração e freqüentemente fazia súplica a seu Pai em favor de outros. No jardim, poucas horas antes de sua morte, encontramo-lo orando por si mesmo, mostrando-nos que é certo descarregarmos nossas mais profundas inquietações e ansiedades sobre um carinhoso Pai Celestial.
Nosso Senhor, além de ser divino era um ser humano. Nossas mentes frágeis não podem compreender como pode existir um tal ser nem como esta dupla natureza se encaixou em sua vida. Simplesmente acreditamos que é assim. Uma das peças de evidência que Jesus foi realmente humano foi aquele choro angustiado na tranqüila noite no Getsêmani: "Aba,Pai... passa de mim este cálice". Quando ele enfrentava a horrível perspectiva da crucificação, ele chorou profundamente e orou fervorosamente para que não precisasse beber o cálice amargo do sofrimento. Sua humanidade, naquela cena, deveria ficar impressa definitivamente em nossos corações.
Quando ele continua a orar, ele reconhece que todas as coisas são possíveis para o Pai, entretanto sua atitude é: "Contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres". Ele reconhece que na boa providência de Deus não pode haver modo de escapar da crucificação, entretanto, em sua humanidade, ele anseia pela possibilidade remota. Ele repete a oração três vezes e não é vã repetição. Seu coração está profundamente perturbado, e seu pedido em lágrimas enche o silêncio da noite.
Como Deus respondeu à oração? Conquanto não haja afirmação definitiva, sabemos qual foi a resposta de Deus. Sua resposta foi: "Não, Filho, não pode escapar desta experiência horrível. Tem que beber o cálice até o fim." É possível que a resposta tenha vindo quando "lhe apareceu um anjo do céu que o confortava" (Lucas 22:43). Embora Deus amasse seu Filho unigênito, ele não o pouparia deste grande trauma. O plano da eternidade para a redenção do homem estava em jogo e não poderia haver nenhum ponto de retorno agora. Pelo bem-estar do mundo, Deus disse "não" a Jesus naquela noite fatídica. E devemos ser gratos.
Porque Deus disse não e porque Jesus aceitou esta resposta, temos o perdão de nossos pecados e a esperança de vida eterna no céu. Terá Deus jamais respondido negativamente a uma oração que tivesse um impacto maior sobre o mundo? Ao dizer "não" ao seu Filho, ele estava dizendo "sim" a nós!
Jesus reconheceu o que precisamos vir a saber verdadeiramente: Deus, o Pai, sabe o que é melhor. Toda a nossa existência é dependente de Deus, ele é nosso Criador e Amparo e temos que confiar que ele agirá em nosso melhor interesse. "Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Romanos 8:32). As "todas as coisas" a que a passagem se refere são bênçãos espirituais e os privilégios que vêm com o sermos cristãos. Deus deixou seu Filho morrer, esperou e viu acontecer, para que você pudesse ir para o céu. Para mim, isto mostra que Deus é sério quanto a nossa salvação.
Isso também me faz lembrar que, algumas vezes, Deus pode ter que me dizer "não". Há provações e aflições que preferiria não experimentar. Eu peço ao Pai para afastá-las, mas algumas vezes ele diz "não". Esta foi a resposta ao pedido de Paulo para a remoção do espinho de sua carne (2 Coríntios 12:9).
Deus não somente disse não a Jesus e a Paulo. Um anjo veio para confortar Jesus, e Paulo ouviu de certo modo estas palavras confortantes: "A minha graça te basta". Como um anjo confortador, estas preciosas palavras nos ajudam a aceitar o "não" de Deus com dignidade e coragem. O que posso fazer senão ir avante quando Deus, em sua infinita sabedoria, dá uma resposta negativa a minhas ardentes orações?
Foi isto que Jesus fez. Ele se levantou de sua posição de oração, estendeu suas mãos para serem atadas e pregadas, e completou a tarefa que seu Pai lhe havia dado para fazer. Obrigado, Jesus, por nos mostrar como aceitar o "não" de Deus com dignidade e graça
por Gary Ogden
Uma vez ouvi essa história de uma amigo: Num Natal, quando eu tinha uns três ou quatro anos, disse ao meu pai que já sabia o que queria de presente. Quando ele me perguntou, respondi: uma moto CB400. Na minha mente de criança eu não podia perceber todas as implicações do meu pedido. Eu nem imaginava que era preciso uma carta de habilitação para poder guiá-la nem o tanto de dinheiro para comprá-la e mais um tanto a ser gasto em combustível e peças para a manutenção. Isso sem falar no fato de que uma moto como essas poderia facilmente me matar só caindo sobre mim. Logicamente, fiquei sem a minha CB400 naquele Natal. Mas meu pai não deixou de me dar a moto porque não me amasse; ele deixou de dá-la porque tinha a capacidade que me faltava de enxergar que eu não estava pronto para recebê-la e por não querer que eu me ferisse, justamente por me amar.
Este exemplo reflete bem o que acontece entre nós e Deus. Ele enxerga o todo, enquanto nós enxergamos as partes. Ele sabe o que é o melhor para nós, tanto a curto quanto a longo prazo.
A Bíblia nos diz que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. ( Romanos 12:2 ) Isto é verdade, mas algumas vezes, apesar de boa e perfeita, a vontade de Deus não é imediatamente agradável. Quando isso acontece, é preciso um tempo até que consigamos entender aquilo que Deus quer nos mostrar. Neste contexto, quanto mais lutarmos pelos nossos próprios desejos, mais longo esse tempo será, e geralmente é só quando descobrimos o propósito mais profundo de Deus em cada situação que conseguimos finalmente nos sentir satisfeitas.
Não existe nada de errado em pedirmos aquilo que desejamos a Deus. A própria Bíblia nos ensina que devemos levar tudo a Ele em oração. ( Filipenses 4:6 ) Mas devemos estar atentos e prontos a aceitar tanto o sim quanto o não.
Da próxima vez em que você receber um não de Deus, ao invés de ficar se lamentando por isso procure lembrar-se de todos os outros sins com os quais Ele já lhe respondeu. E lembre-se também daqueles nãos do passado que foram difíceis de engolir, mas que hoje podem ser vistos como uma verdadeira benção de Deus